MOMENTO PÚBLICO

 

a pedra monolítica gravada à martelada

o paquiderme de bronze

a cabeçorra de concreto

resistem à tarde

ao tempo

à gravidade

do agora

 

como tombar um monumento?

fazer do cabo da faca o gume

regurgitar o passado

recriar o momento

presente

a vida no agora da ágora

que passa

desatenta

sofrendo a violência

silenciosa

da paisagem retorcida

cindida

pelas marcas

cicatrizes

feridas abertas

em forma de memória

cimento

 

um tumor no tempo

não para lembrar que o ruim

Já foi

mas para permanece-lo

a cada instante

outrora

 

como derrumbar os monumentos?

desenhos de uma onça

na silhueta das bandeiras

um círculo fogo

derretendo imperadores

faixas de segurança

vedando

para desvendar

o que foi

nosso passado

 

a vida é agora

um momento público

que pulsa

pula

na repulsa do ódio

no risco da alegria

no gesto do encontro

ao rés do chão

olho no olho

sem pedra

sem bronze

sem concreto

a pele

a carne

o sangue

o suor

na ágora

do agora